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Barbara Mori não é a única Rubí: Cada interpretação tem o seu tempo Histórico.



Calma pessoal, é claro que a Barbara Mori é uma excelente atriz! Mas precisamos esclarecer algumas coisas para não sair reproduzindo falas vazias de conhecimento na internet. Como por exemplo, eu leio muito em grupos sobre telenovelas a frase "Barbara Mori é única Rubi"; "Melhor Rubi é a original da Barbara Mori".

Eu como educador, professor e Historiador eu fico preocupado com o problema que as pessoas tem de reproduzir frases ou palavras sem fazer "uma pesquisa antes". Eu mesmo de vez em quando me pego em contradições por palavras ou frases que eu defendo, e de imediato vou até o Google, e pergunto, "esse acontecimento é verdadeiro?" - Mas muita gente não sabe utilizar essa ferramenta que facilitou a pesquisa no mundo desde os anos 1990.

Trechos em vermelho contém spoilers mais pesados!

Por: Fabiano Cabral de Lima

Professor de História

2. Tecnologia, História e a Dramaturgia nos anos 2000:

Antes dos anos 1990 ter informações sobre novelas, filmes, música no Brasil era difícil, ou você sabia as informações pelos jornais ou revistas que chegavam até as bancas, ou pela televisão e rádio. Ou quem sabe aquele seu amigo mais rico, que viajava para outros lugares distantes e trazia materiais em audio ou video, como fitas, cds e dvds daquele artista que para você era desconhecido. Hoje a internet possibilita que um artista que acabou de estourar de sucesso lá na Coreia do Sul, imediatamente seja ouvido e assistido em qualquer lugar do planeta. Algo que Eric Hobsbawn, Historiador, descreve no livro Era dos Extremos (1994), no capitulo "Feiticeiros e Aprendizes" descreve o que a Historia no tempo imediato vive: O avanço das tecnologias promovida pelo avanço das ciências matemáticas e tecnológicas, promoveu um avanço também das formas que o Historiador pode investigar a História. Essas ciências contribuíram para que a tecnologia nos tornasse cada vez mais próximo das evidencias históricas, acompanhamos no imediato algo que se torna Histórico. As fontes também cada vez mais se variam e se tornam acessíveis com o avanço tecnológico.


A tabela abaixo é uma representação do crescimento por numero da quantidade de residências que tinham e não tinham televisão no Brasil (Fonte: IBGE)


A tabela abaixo tem os mesmos dados, percentualizados (Fonte: IBGE):




Observando as tabelas vemos que no intervalo entre os anos de 2001 até 2012 a televisão vinha crescendo em quantidade nos lares brasileiros. No ano de 2005 mais de 90% das residências brasileira tinham aparelhos de TV. Telenovelas como Rubí (Televisa, 2002), exibidas em 2005 pelo SBT, tiveram maior oportunidade de estar sendo vistas do que em anos anteriores.

3. A Primeira aparição de Rubí nas mídias:

Rubí é um texto de autoria de uma autora mexicana, de nome Yolanda Vargas Dulché (1926-1999) que foi adaptada 4 vezes para telas. A primeira vez que o texto foi publicado, foi em 1963, em quadrinhos, numa revista chamada "Lágrimas, Risas y Amor", em um período que a Televisão era um aparelho muito caro e inacessível. Os textos impressos e o rádio ainda eram os meios de divulgação de comunicação mais populares. Vemos abaixo uma imagem da propaganda do texto publicado na revista e um trecho dos quadrinhos em que Rubí beija Alejandro, um dos seus antagonistas. (HOLANDA JERKE SEVILLA PALOMARES, 2015):




3.1 Parte com spoilers! A História de Rubí. Pode pular essa parte escrita em vermelho caso não queira ter spoilers sobre a série/novela:

A História original é sobre uma mulher, de origem pobre, que tem vergonha da realidade de sua familia e esconde das amigas ricas que ela mora em um cortiço no México. Uma de suas amigas é Maribel, uma menina que tem uma deficiencia física na perna, que naquela época foi descrito como consequencias de uma poliomielite. Maribel se corresponde por cartas com Heitor, um jovem rico, que quando vem visita-la no México, descobre a deficiência de Maribel,e não a aceita. Há também um outro rapaz de origem humilde que é apaixonado por Rubí, Alejandro, que sonha em ser estudante de medicina.  Rubí, vendo os problemas economicos de sua familia, como a doença de seu pai, decide se aproximar de Heitor, e ambos acabam se apaixonando, e fugindo do México no dia do casamento de Maribel, que fica inconsolável. Rubi descobre depois que Heitor estava entrando em falência, pois o pai de Maribel acaba com a carreira dele como vingança, e Rubi decide pular para outra conquista de outro milionário rico, desta vez um estilista que a consagra como uma modelo internacional. Na sombra de Rubi, está Alejandro, que após os anos se passarem é Médico, e apaixonado, e cerca Rubi várias vezes na trama. Alejandro descobre que Rubi estava marcando mais um noivado com um milionário da moda, e os dois tem uma briga e Rubi sofre um acidente com video, desfigurando o seu rosto e se tornando cadeirante. Alejandro termina se casando com Maribel, apelidada na época de amizade, por Rubí, como "a manca desgraçada".

4. A primeira adaptação pra Televisão - 1968:



A primeira vez que o Argumento de Yolanda Vargas Duche foi adaptado, foi em 1968, pelo Telesistema Mexicano de Televisión, hoje chamado de Televisa. Uma atriz famosa na época fez a protagonista, Fanny Cano, atriz que era comum ser vista nas capas de revista, em festas ou trabalhando como modelo ou manequim. A História fez sucesso na época, e foi inclusive utilizada como propaganda as redes sociais em 2020, para mostrar que a primeira Rubí foi a de Fany Cano, falecida em 1983. A Televisa nas redes sociais também divulgou curiosidades sobre a autora do texto original, Yolanda Vargas Dulché conforme as imagens abaixo do site do Las Estrellas (canal de entretenimento da Televisa) e do Instagram: @Rubi.laserie.





A virada dos anos 1960 para os anos 1970 significou na História avanços e também retrocessos na política mundial. Foi o período da Guerra Fria, em que EUA rivalizava a URSS pela conquista de poder financeiro, fazendo inclusive os EUA apoiar ditaduras militares nas américas temendo o crescimento de politicas socialistas no entorno do território. Foi o período em que a contracultura teve grandes manifestações nos EUA, movimentos pelos direitos das mulheres, negros e gays tomam as ruas de países aonde a democracia ainda era aberta. Em 17 de outubro de 1953, o México avançou na regulamentação ao reconhecer as mulheres como cidadãs da República, ou seja, mulheres cerca de 10 anos antes da versão ir para televisão não eram consideradas cidadãs e com direitos civis (NAKAMURA e SALGADO, 2010).

Rubí é uma protagonista e ao mesmo tempo tratada como antagonista, sendo ela quem ganha o nome como título da obra, mas torna-se uma crítica a ambição. Questionamos, porque num momento em que parte da liberdade política das mulheres tinha acabado de ser conquistada?

A História que vem ao ar na televisão é: sobre a ambição de uma mulher que quer dominar um poder através do dinheiro. Nesta mesma época observamos que o cinema americano explorava o arquétipo da "Femme Fatale" da mulher que seduzia homens para dominá-los. Também neste mesmo perfil tem as "Vamps", que tem a mesma linha da Femme Fatale (CAMPOS, 2019), e que eram cruéis e sempre rondavam os mocinhos dos filmes. Geralmente essas personagens antagonizavam com personagens mocinhas bondosas que respeitavam o padrão heteronomartivo e religioso da sociedade de época. Mas Rubí era diferente, ela era a protagonista da trama, uma anti-heroína.

5. Rubí, o Filme (1970)


Desta vez a adaptação foi encarnada pela atriz Irán Eory (conhecida no Brasil por fazer Dona Vitória De La Veja, Matriarca da Familia De La Veja em Maria do Bairro (Televisa, 1996). Fotos da atriz na época de Rubí e Maria do Bairro, e o link para assistir o filme, estão abaixo.




Mais uma vez, a femme fatale, encarnada pela personagem Rubí (1970) agora ganha o mundo em formato de película. Não temos dados de quantos cimenas no mundo receberam a cópia do filme, mas é importante compreendermos a proximidade dos EUA com o México no sentido de fronteira, o que faz com que muitos mexicanos estejam morando nas terras dos EUA, e um possível público na época. Vale também os mesmos questionamentos políticos relatados anteriormente no texto, e mais um: Porque punir a mulher no final por ela ser ambiciosa? Seria um castigo por consequência de querer casar-se por dinheiro para conquistar um poder aquisitivo? Porque as pessoas se importam com a vida privada alheia neste sentido? Porque julgar se a ação de Rubí é certa ou errada?


6. Rubí (Barbaraminions acham que é a única) Televisa, 2004/SBT, 2005:


Os anos 2000 como mostramos os dados sobre o crescimento do consumo de televisão no Brasil, e vemos que é o momento que o meio de comunicação chega a mais de 90% das residências. Foi nesse momento que Rubí chegou na sessão que antes era chamada de "Tardes de Amor" nas tardes do SBT. Começa com aquela abertura que todo mundo arrisca a cantar a música, encomendada pelos produtores aos cantores Reyli Barba e Diego Torres. Uma musica dançante, misto de pop com tango, quem assistiu lembra do refrão: "mujer de nadie, mujer de todos, mujer que mata...". 

No ano de 2004 a Televisa trouxe um sucesso do passado que estava guardado, e chamou Barbara Mori para interpretar a personagem principal. Barbara, de origem Uruguaia, e já tinha protagonizado 6 telenovelas. Algo que aparece nas cenas da novela é o aparelho de telefone celular, que é a principal ferramenta comunicação em formato de conversas e mensagens de texto entre os personagens. Foi o momento em que a telefonia celular crescia no mundo, e a linguagem estava se transformando com as mensagens de texto. Foi reprisada pela emissora três vezes nos anos de 2006, 2013 e 2016. As duas ultimas reprises, foram mostradas no Brasil em período em que a Internet estava dominando os meios de comunicação, inclusive é possivel resgatar memes da internet da época, como a Dona Neide, uma mulher que ficou famosa no ano de 2015 por pedir para um programa de sensacionalismo policial, que o Silvio Santos não reprise a novela Rubí, porque ela era a própria Rubí e o SBT não tinha o direito assinado por ela.


 


Alguns memes em formato de imagens gerados nas épocas:









Sem dúvidas as reprises chegaram em um momento que a tecnologia da informação estava ganhando um novo protagonismo, a do computador que estava ocupando cada vez mais os lugares de entretenimento entre as pessoas, no Brasil. Vemos abaixo o crescimento do consumo de internet por computador ou outros meios de comunicação (tablets e celulares) no Brasil, por residência, entre os anos de 2004 e 2015 (IBGE, 2015).


7. A Rubí asiática! (ABS-CBN/Televisa, 2010)


Essa versão não tem muitas evidências sobre como foi produzida. A emissora filipina ABS-CBN, tinha uma parceria com a Televisa, produzindo diversas versões proprias de sucessos da mexicana. A parceria deu certo, e rendeu uma versão de Maria do Bairro teve um ano depois, pela mesma emissora em 2011. 

A Rubí nesta versão teve a sua História alterada. Não tem spoiler pois ela não é acessivel e é bem diferente numa primeira fase das versões que são acessíveis para os Brasileiros. Ela é filha de uma mulher que sofre violência doméstica, e ao fugir do marido, é presa, e é separada da filha. Ela a reencontra nas ruas quando criança, reconhecendo-a por uma marca triangular vermelha de nascença nas suas costas. A menina se torna adolescente, e se torna amiga de uma jovem que sofre bullying por usar um extensor na perna, por ter uma perna mais curta. Rubi briga com as colegas de escola defendendo a menina, e esta menina a leva para sua casa. Rubi descobre que esta menina é milionária, e que tem um pretendente também milionário, Heitor, que não gosta muito da menina que é manca... a partir daí é a História que vocês conhecem... ou vão conhecer. Há um trailer não oficial disponível no youtube, e nele podemos ver como é comum o microcomputador em formato de notebook, como uma ferramenta de meio de comunicação entre os personagens. Isso demostra a mudança tecnológica entre a versão de 2005 e esta versão. Vejam abaixo. Abaixo do vídeo algumas fotos utilizadas na internet para divulgar a versão de 2010. O nome da atriz que interpretou a adolescente Rubí é Angelica Panganiban.


  



Repare no notebook na foto e no video.

8. Rubí (2020) - CHEGOU A VEZ DA REPARAÇÃO HISTÓRICA!


A Televisa vinha entre os anos de 2014 e 2020 passando por uma crise de audiência, pois a concorrente TV Azteca, e a Estadunidense Telemundo estavam lançando novelas realistas, abordando a questão política e do narcotráfico como foi o supersuceso La Reina Del Sur, pela Telemundo, 2011. Midias em Streaming dominam também cada vez mais o mercado da dramaturgia.

Fonte: Revista Exame. https://invest.exame.com/me/mexicanos-abandonam-novelas-e-emissoras-enfrentam-drama-na-bolsa (22.05.2017)


Então o setor de dramaturgia da Televisa sofre uma nova mudança, pois contrataram desde 2016 um ex-produtor de novelas da emissora Telemundo, pra fabricar novelas realistas, o produtor Patricio Wills.
As emissoras latinas passaram a incorporar tramas cada vez mais tramas realistas, entrelaçando ao fantástico, dados da realidade. Algumas novelas e séries vão abordar a vida de agentes públicos como Presidentes e Presidentas da República (La Candidata, Televisa, 2017), adaptações de tramas brasileiras vão criticar também o sistema patriarcal e patrimonialista nos sistemas de poder mexicanos (El Bien Amado, Televisa, 2017). 

Algumas novelas de êxito nesta época abordaram também de forma romântica a homossexualidade (Aristemo, Televisa, 2019). Mas a inovação da Televisa em tentar sair dos clichês de Histórias de princesas pobres que encontram príncipes ricos, parece não ter dado muito certo.

A Televisa tentava se encaixar nos temas abordados pelas emissoras concorrentes e no Netflix, porém, não estava tendo muito sucesso, como mostra o print de 2017 mais acima. A Televisa, junto a Patrício Wills decidem trazer tramas inéditas, mas baseadas nos textos clássicos da emissora. Assim veio o projeto que a Televisa chamou de "Fabrica de Sueños". O projeto prometeu em 2018 resgatar histórias clássicas da emissora, em formato inédito de 26 capítulos. A Primeira foi A Usurpadora (2019), que conta a História da Paola, desta vez, primeira dama do México, envolvida com o narcotráfico, que sequestra a sua irmã gêmea perdida, e a obriga a viver a vida dela. O primeiro capítulo foi um das maiores audiências do México dos últimos 6 anos antes de 2019, conforme a imagem abaixo. E apostando no sucesso vieram Cuna de Lobos (2019) e Rubí (2020). 
Fonte: UOL: Tv e Famosos. 03 de setembro de 2019.
https://tvefamosos.uol.com.br/noticias/redacao/2019/09/03/nova-usurpadora-estreia-no-mexico-com-recorde-de-audiencia.htm


Rubí (2020) repetiu o sucesso, a estreia não foi realizada direta no México, e sim, na Univision, emissora dos Estados Unidos, pertencente a rede Televisa. Foi sucesso do primeiro ao último capítulo conforme vemos as imagens dos sites  a seguir. A estreia no México ocorreu no momento que a dramaturgia estava paralizada devido a pandemia de COVID-19.






A História não teve muitas alterações da que eu contei no trecho em vermelho em alerta de spoiler. A História lembra o filme de 1970, e ao mesmo tempo carrega novas caracteristicas nos personagens, talvez por causa do tempo imediato em que se passa a trama. Há entrelaces políticos em torno da Rubí, desta vez defendida por Camila Sodí, sobrinha da ex-rainha das novelas da Televisa, e cantora Thalia. Vemos uma Rubí mais emponderada, e consciente sobre questões culturais. Critica a violência doméstica, independente. 

Os personagens principais possuem questões políticas, e ousam do chamado merchandising social.

Alerta de spoiler em vermelho a seguir:

Maribel:

Precisava de uma nova justificativa para a personagem se manter com problema de locomoção. Desta vez, Maribel não possui uma das pernas devido um acidente automotivo quando era criança, e o seu pai se sente culpado pelo acidente, já que ele dirigia o carro. Ela também alimenta uma conta nas redes sociais falando sobre a sua prótese de sua perna. Ela não se identifica, apenas faz fotos conceituais da prótese. É uma Maribel, rica, mas envolvida na militância da acessibilidade aos deficientes. No decorrer da trama, ela cria uma ong que atende pessoas deficientes físicas e faz doação de próteses. Alejandro se torna um dos médicos da ong e se casa com ela.

Alejandro:

Alejandro é apresentado à Rubi por Maribel e Heitor, pois ele é amigo de Heitor. Rubí se interessa a principio por Alejandro por ele ser amigo de Heitor, que é arquiteto famoso no México e com trabalhos importantes no exterior. Alejandro é médico, e em um capítulo, ele convida Rubí para ir até a sua casa e Rubí desaprova Alejandro por não ser milionário, mas uma pessoa que mora em um apartamento de bairro. A realidade mostra o Medico, que trabalha para o governo, e tem uma vida simples. Mas a trama dá a entender que o médico, personagem de Alejandro, é desvalorizado financeiramente em relação à Heitor, Arquiteto, sendo que ambos são amigos de infância.

Heitor:

Pretendente de Maribel, se conheceram por aplicativo de smartphone, mas nunca tinham se visto presencialmente, só por fotos. Maribel não revela a Heitor que ela possui uma prótese no lugar da perna, e quando Heitor a encontra pela primeira vez, ela decide contar. Ele não aprova a questçao física de Maribel, se sentindo desconfortável falando sobre o tema. Em casa, ele procura videos sobre desafios e pessoas famosas com próteses ou cadeirantes, e leva a relação com Maribel adiante até fugir com Rubí no dia do casamento. Ele se revela abusivo e violento, e envolvido com narcotráfico, segredo dele ser um arquiteto de sucesso. Quando passa a ser procurado pela polícia, simula a propria morte, e anos depois, sequestra Rubi e a mantem refém por 15 anos em uma mansão no interior do México.

Rubí:

Rubí é amiga de faculdade de Maribel, e acompanha a saga da amiga deficiente. Frequenta a mansão, e sempre é presenteada pela moça com roupas, jóias....
Ela leva uma vida humilde, morando em uma casa no suburbio com a sua mãe, sua irma e sua sobrinha. Rubí sofre com assédio de homens que trabalham para o tráfico no bairro, e em uma das sequencias ela entra em luta corporal com um dos caras que ainda tenta assalta-la. Mas ela revida. Dias depois o bando incendeia a casa onde ela mora com a familia. Elas perdem tudo no incêndio. Rubi fica focada em sair da vida de mulher pobre, e decide fazer de tudo para conquistar um homem rico como o marido de Maribel. Ela conhece Alejandro, se apaixona por ele, mas por ele ser medico que pro que ela queria, ele era pobre, ela resolve investir em Heitor. Pois Rubi descobre que Heitor não está interessado em Maribel, de acordo com ela, por ela ser "manca". Heitor foge com Rubí para a Europa, e se revela um homem abusivo, controlando até as suas roupas. Ela conhece um estilista, que a transforma numa top model, e foge com ele para a França, depois esse estilista revela para ela que não tem intenção de casar. ela conhece um Príncipe da Espanha em um evento onde ela é modelo. Ela é recebida com deboche pela familia do principe, a Rainha se recusa a recebê-la para audiencias, e ainda oferece dinheiro para ela largá-lo. Ela volta para o México tentando reatar com Alejandro, e para enterrar a sua mãe, que faleceu por saber que Rubí estava no quarto relacionamento (essa parte eu achei estranha, tudo bem que a mãe jpa sofria do coração... mas... enfim...). Rubi guarda um pingente, que foi presente de Alejandro, e guarda durante muitos anos até se livrar do carcere que Heitor vai mantê-la.

Eu recortei abaixo alguns trechos interessantes da trama, que eu traduzi livremente do espanhol, que refletem temas estudados pelas ciencias humanas no imediato :

i. Questões de Gênero.

a) Rubí fala abertamente com Maribel sobre orgasmo feminino:



b) Em entrevista pra imprensa durante a novela, Rubi faz um relato sobre a independência feminina:



c) Rubí responde provocações machistas, fazendo os homens lembrarem do retrocesso.



D) Rubí respondendo uma pergunta retrógrada, teorizando liberdade feminina:




E) Nem de tudo ela não tem medo... Aí revela-se a Rubí que sofre violência doméstica:



ii. História do Patrimônio

a) Colonização e as suas alterações de memória:

Rubi responde uma membra da realeza espanhola, após ser questionada de ser pobre, não ter cultura e não conhecer museus da Espanha.



b) Faz questionar sobre Despotismo, Marxismo e o Liberalismo Econômico:



Só faltou a Rubí falar "ROBESPIERRE GUILHOTINOU FOI POUCO!"


9. Considerações finais:

As novelas tiveram uma transformação ao longo do tempo, temas políticos passaram a ser incorporados nas tramas após os anos 2000 nas novelas da Televisa. Ultimamente a receita é idêntica as da dramaturgia da nossa conhecida Globo: Até as tramas com histórias simples, precisam de um pouco de realismo ou de merchandising social. As pessoas se identificam com problemas sociais e interagem melhor com as tramas. Em 2019 foi o ano que o México conquistou a maior representação feminina no congresso da Historia, através do voto. Foj aprovada em 2019 a lei de paridade, organizada por mulheres do movimento de mulheres municipalistas (Confederação Nacional de Municípios, 2019). Há mudanças politicas no presente que deixa aquele cenário das novelas em que se comercializava a trama da personagem sofrida e salva por um príncipe encantado, que é a critica de ALMEIDA (2002), além do melhor tratamento a mulher como identidade humana e civil, que antes era punida por ser independente, e objetificada, sendo critica de HOLANDA JERKE SEVILLA PALOMARES (2015).  Há mudanças também tecnológicas ao longo do tempo, que mudam a forma de ter acesso as telenovelas. Antes a TV não era a cores, e pouco material se tem gravado, e hoje está tudo no streaming na internet, Mudanças tecnológicas aparecem nos cenários das novelas, quando surgem computadores e smartphones nos cenários do tempo imediato. Rubí (2020) pode ser analisada como uma critica a uma sociedade ainda machista, e que as mulheres conseguem ser independentes e resistindo as ondas conservadoras. Temas críticos a violência doméstica são cada vez mais presentes nas américas, como no Brasil, pós aprovação da Lei Maria da Penha (Lei 11.340, sancionada em 7 de agosto de 2006), que pune homens pela violencia doméstica contra mulheres. A Homofobia também se torna crime no Brasil, e varios Países nas Américas a partir dos anos 2000 passam a aceitar juridicamente o casamento homossexual. São demandas Historicas, que rompem protestos desde o inicio do século XX assim como a luta pelo reconhecimento civil das pessoas negras. As novelas se adaptam as novas demandas sociais, problematizam o racismo e o machismo, ja que as emissoras tem trabalhadores identitários dessas diferenças. Também pode haver o obedecimento de leis, ja que ações machistas ou racistas pode causar processos por casos de racismo ou de violencia contra a mulher sobre atores ou corpo da emissora de TV. Mas tudo isso dentro de seus espaços e tempos na nossa diversa america latina.

Não é a toa que essa Rubí tem um desfecho diferente, terminando rica, independente, e linda como é em toda a trama desdee o início, mesmo sofrendo com tentativas de diminuirem-na como objeto dentro da trama. Ela dá a volta por cima e coloca os machistas escrotos nos lugares deles. Melhor aula de História que essa novela de 2020 dá sobre o tempo imediato são as reparações históricas de gênero e étnicas, pois é por uma questão étnica que Rubí abandona o Principe, e passa a pensar que dinheiro e poder não é tudo, e sim o amor de sua família e de Alejandro. Isso ja depois de se consolidar como top model de sucesso e ter bastante dinheiro guardado, até ser sequestrada pelo nojento do Heitor.

Cada Rubí tem o seu tempo, e um corpo diferente. Inseridas em contextos politicos diferentes e até em Países diferentes. O personagem é como uma alma, que reencarna e tem uma nova história, se pensarmos de forma metafísica platônica, como consta nos diálogos de A República. Assim a alma se torna eterna.


Referencias:


ALMEIDA, H. B.. Melodrama comercial: reflexões sobre a feminilização da telenovela. Cadernos Pagu (UNICAMP. Impresso), Campinas, v. 19, p. 171-194, 2002.

HAMBURGER, Esther. “Diluindo fronteiras: a televisão e as novelas do cotidiano”. In: NOVAIS,
Fernando & SCHWARCZ, Lília Moritz (Org.). História da Vida Privada no Brasil 4 – Contrastes da
intimidade contemporânea. São Paulo: Cia. das Letras, 1998. p.439-487.)

CAMPOS, Leonardo. Femme Fatale, um arquétipo Noire. 2019. Plano Critico. https://www.planocritico.com/plano-historico-23-femme-fatale-um-arquetipo-noir/

COSTA, Cristiane. “Desgraça pouca é bobagem”, “Nada personal” e “El amor tiene cara de
Mujer”. In: Eu compro essa mulher – romance e consumo nas telenovelas brasileiras e mexicanas.
(Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2000. pp.47-102.)

CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE MUNICIPIOS. Maior participação de mulheres na gestão pública: México aprova lei de paridade. 35 de maio de 2019. https://www.cnm.org.br/comunicacao/noticias/maior-participacao-de-mulheres-na-gestao-publica-mexico-aprova-lei-de-paridade

Revista Exame. Mexicanos abandonam novelas e emissoras enfrentam drama na bolsa. 22 de Maio de 2017. https://invest.exame.com/me/mexicanos-abandonam-novelas-e-emissoras-enfrentam-drama-na-bolsa

HOBSBAWN, Eric. A era dos extremos: o breve século XX. 1941-1991. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.

HOLANDA JERKE SEVILLA PALOMARES, THAIS MARIA. RUBÍ E O MELODRAMA: A QUESTÃO DO ESTEREÓTIPO FEMININO NA TELENOVELA MEXICANA. Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção de grau de Mestre em Literatura Hispano-americana, no curso de Pós-Graduação em Estudos de Literatura, área de concentração Estudos Literários e subárea Literaturas Estrangeiras Modernas Literaturas Hispânicas. Orientador: Prof. Dr. Rodrigo Labriola. NITERÓI 2015.

NAKAMURA, LUIS ANTONIO CORONA ; SALGADO, Eneida Desiree . Women and politics in Mexico and Brazil. SEQUÊNCIA (UFSC), v. 41, p. 112-134, 2020.

PLATÃO. A República. Trad. Ciro Mioranza. 2ª edição. São Paulo: Escala, 2007.

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