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A Usurpadora e a História da Filosofia



Por Fabiano Cabral de Lima

Historiador e Mestre em Edução (UFRJ)

Pedagogia (UniRio)


É possível pensarmos a novela A Usurpadora como uma forma de refletir sofre a Filosofia.

La Usurpadora é uma novela com roteiro originalmente escrito pela cubana Inés Ródena, e baseado em livro. De Stonen Life, narra do ano de 1936 a História de gemeas, que tem trajetórias de vidas diferentes, e que trocam de lugar. Esse mesmo livrro se tornou filme, de mesmo nome em 1946, estrelado por Bette Davis, e também originou a trama Mulheres de Areia de Ivani Ribeiro, no Brasil.

A Usurpadora tem 7 versões originais desde a primeira versão televisionada em 1971.




A mais popular é de 1998, estrelada por Gabriela Spanic, vivendo as gêmeas Paola e Paulina.



Podemos compreender que a interpretação de um personagem é como se o corpo do ator desse lugar e vida para outra alma, criada por um escritor.

Platão (432 a.c. -  348 a.c) em A República, mostra diálogos atribuídos à Sócrates (470 – 399 a.C.) explicando o que pode ser a alma, e entre explicações, a Alma é o principal estado do corpo capaz de controlar o corpo físico, é a nossa mente, e controla as virtudes entre o bem e o mal. A nossa alma após a morte se separa do corpo e pode visitar outros espaços, vivendo outras vidas em outros corpos. Essa tese foi apropriada por Aristoteles (384-322 a.C.) que criou as teorias causais sobre a existência da matéria.





Na idade Média, Santo Agostinho (354-430) vai resgatar o pensamento platônico e socrático e fundar o neoplatonismo, onde a alma vai ser associada como uma criação de um único Deus, e não de origem politeísta da mitologia greco-romana. São Tomás de Aquino ressuscitará as teorias causais de Aristóteles para explicar porque tudo pode ser uma criação e forma dada por um Deus. Esses pensadores vão refletir sobre uma teroria da filosofia e da teologia chamada de metafísica, onde vão ser criadas teorias sobre a origem do que é a alma.





Para a interpretação teatral ou artística a alma pode ser algo descrito por um autor/escritor, para interpretação de um corpo de ator, que é uma pessoa comum e preparada para receber essa alma. Essas interpretações estão também no nosso dia a dia, embasado nas nossas personas que criamos para lidar com agentes do nosso cotidiano como Erving Goffmann (1985) descreve no seu livro A Representação do Eu na Vida Cotidiana. Nós somos um corpo que se divide em diferentes facetas, seja uma com a família, outra com amigos, outra no trabalho. Já Jung (2000) trabalha com a questão do arquétipo, onde os individuos no dia a dia se dividem em diferentes personas para lidar com ações do cotidiano. 



Todos esses pensadores teorizam o que essa novela revela: a questão da formação de uma personalidade. Principalmente quando temos corpos que são semelhantes em questão, e indivíduas que são obrigadas a viverem uma vida, que não lhes pertencem. Traços de suas personalidades acabam sendo chaves para que aos poucos pessoas que estão em seus espaços de convivência descubram que não se tratam das mesmas pessoas. Sejam no papel de gemeas ou sósias, a troca de lugar de corpos identicos não disfarça as almas que ambas carregam. Uma é psicossocial ou psicopata, e a outra uma pessoa generosa e afetuosa? São questões abertas aos amantes da Historia da filosofia e das ciências.

O estudo de algo que pode estar presente e ao mesmo tempo ausente de um corpo, que simboliza toda a inteligência que o faz se mover, é a Metafísica.

Platão não escreveu diretamente como Aristóteles sobre a Metafisica.


Mas descreveu que existe um componente metafísico na nossa mente, que é a nossa alma.

A nossa mente é a psyqué, ou a parte inteligente, e o nosso corpo é apenas uma matéria.

É a nossa mente, ou a alma, quem dá vitalidade ao corpo.

Essa alma pode desabitar o corpo, passar por um processo de desapego da vida naquele tempo que ela viveu, e habitar outro corpo.

O ser humano pode ser um corpo, uma alma ou uma dualidade entre ambos.
A alma precisa de um corpo para se expressar. Mesmo que a alma seja uma perfeição, ao nosso olhar, e o corpo imperfeito.

A alma é infinita e pode habitar vários corpos!!!

Não importa o corpo que Paola Bracho estará. Ela pode ser sempre "linda e rozagante". Já a Paulina... Sempre será uma Usurpadora maldita! Um corpo que representa.

Toda vez que a alma entra em um corpo, que é apenas um instrumento material, ela vive uma nova vida do "zero". Mas ela sempre vai doar a sua essência ao corpo que a recebe, e assim a alma se materializa.

Certa vez Paola Bracho indagou a Vovó Piedade: "você tem alma de cozinheira Piedade..."

Ela respondeu: "e você tem de que?".

Se ela parasse de beber conhaque e tivesse estudado Filosofia, não teria a pachorra de me fazer uma pergunta dessas!





Porque a História da Filosofia explica tudo sobre as mãos da metafísica!



Referencia:

GOFFMAN, Erving. A representação do eu na vida cotidiana. 3 ed. Tradução de Maria Célia Santos Raposo. Petrópolis, RJ: Vozes, 1985

JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. 2.ed. Petrópolis: Vozes, 2000.

PLATÃO. A República. Trad. Ciro Mioranza. 2ª edição. São Paulo: Escala, 2007.

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